quinta-feira, setembro 23, 2004

A Sociologia não é só uma ciência, é um homem novo...

"Tratando-se de pensar o mundo social, nunca se ocorre o risco de exagerar a dificuldade ou as ameaças. A força do pré-construido está em que, achando-se inscrito ao mesmo tempo nas coisas e nos cérebros, ele se apresenta com as aparências da evidência, que passa despercebida porque é perfeitamente natural. A ruptura é, com efeito, uma conversão do olhar e pode-se dizer do ensino da pesquisa em sociologia que ele deve em primeiro lugar "dar novos olhos" como dizem por vezes filósofos iniciáticos. Trata-se de produzir, senão "um Homem novo", pelo menos, "um novo olhar", um olhar sociológico. E isso não é possivel sem um verdadeira conversão, uma metanoia, uma revolução mental, uma mudança de toda a visão do mundo social.
Aquilo a que se chama a "ruptura epistemológica", quer dizer, o pôr-em-suspenso as pré-construções vulgares e os príncipios geralmente aplicados na realização dessas construções, implica uma ruptura com modos de pensamento, conceitos, métodos que têm a seu favor todas as aparências do senso comum, do bom senso vulgar e do bom senso cientifico. Vocês compreenderam sem duvida, que quando se está convencido , como eu, de que a primeira tarefa da ciência social, é a de instaurar em norma fundamental da prática cientifica a conversão do pensamento, a revolução do olhar, a ruptura com o pré-construido e com tudo o que, na ordem social - e no universo douto- o sustenta, se seja condenado a ser-se constantemente suspeito de exercer um magistério profético e de pedir uma conversão pessoal."

Bourdieu, Pierra "O Poder Simbólico"


Le passage du commerce Saint-Andre, 1952-54
Balthus (Balthasar Klossowski de Rola) [French Painter, 1908-2001 - Surrealism]