domingo, abril 10, 2005

"Ontem, sentado num penhasco, e perto
Das águas, então quedas, do oceano,
Eu também o louvei sem ser um justo:
E meditei, e a mente extasiada
Deixei correr pela amplidão das ondas.

Como abraço materno era suave
A aragem fresca do cair das trevas,
Enquanto, envolta em glória, a clara lua
Sumia em seu fulgor milhões de estrelas.
Tudo calado estava: o mar somente
As harmonias da criação soltava,
Em seu rugido; e o ulmeiro do deserto
Se agitava, gemendo e murmurando,
Ante o sopro de oeste: ali dos olhos
O pranto me correu, sem que o sentisse,
E aos pés de Deus se darramou minha alma."

Poesia de Alexandre Herculano


Maurits Cornelis Escher
[Dutch Illustrator, 1898-1972]