quinta-feira, agosto 25, 2005

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n altura,
Triste de fachada, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de mil moças) num só momento:
inimigo de hipócritas e frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou cagando ao vento.

Manuel Maria Barbosa du Bocage


Maxfield Parrish
[American Painter and Illustrator, 1870-1966 - Golden Age of Illustration]

quarta-feira, agosto 24, 2005

cheira, veja
almeja, discretamente repara
sobrevoa a bandeja,
cué cué
a avestruz
snif snif
o cheira cús


Georgia O'Keeffe
[American Painter, 1887-1986]

sexta-feira, agosto 19, 2005

FF, Matinee: "My words and smile are so easy now"

Parece que vou ter mesmo de passar fome pela música...depois de um Verão onde o dinheiro para as férias foi exclusivamente dedicado a exercitar o ouvido, vou gastar os últimos tostões no próximo dia 28 de Agosto. E isto porque os Franz Ferdinand e Mogwai vêm cá no festival Lisbon Soundz . Também Jimmy Chamberlin Complex lá estarão, a banda do antigo baterista dos Smashing Pumpkins e Zwan.

Vai ser uma boa oportunidade para ouvir algumas músicas do disco novo de Franz que está para sair, para além de ver pela primeira vez ao vivo os Mogwai. Esta é daquelas que não pode passar ao lado...

http://www.musicanocoracao.pt/agenda/agenda_lisboa_soundz.html
http://www.mogwai.co.uk/dates.html

terça-feira, agosto 16, 2005

"Os dois afastando-se, o braço dele sobre os teus ombros, o segredo ao ouvido e esse cabelo, onde me perdia, volteando ao ritmo da gargalhada. Serias incapaz da chacota a meu respeito, é outra a razão, simples e infernal - estás feliz. E uma parte de mim, ainda tímida, quase clandestina, deixa cair os braços e reconhece a derrota e culpa, fica grata pelo que me deste e murmura um "boa sorte" que todo o resto do que sou fita horrorizado. Será isto finalmente o amor?"

"Estes difícies amores" - Júlio Machado Vaz



Edvard Munch
[Norwegian Painter, 1863-1944 - Symbolism/Expressionism]

segunda-feira, agosto 15, 2005

"A infância mostra o homem, tal como a manhã mostra o dia." - John Milton



Edvard Munch
[Norwegian Painter, 1863-1944 - Symbolism/Expressionism]

quinta-feira, agosto 11, 2005

O que nos espera?

1º passo - ler os seguintes artigos. (uma leitura superficial deve bastar)

Área do tamanho do Pará está derretendo na Sibéria

Europa está esquentando mais do que esperado, diz WWF

2º passo

O que é que nos pode salvar disto? È um facto que o meio ambiente se pode tornar impossivel para a nossa existência, ou pode vir a prejudicar imenso a nossa forma de vida... Estamos prontos para tal situação... Sinto que o homem ainda nao evoluiu o suficiente para começar a regredir ou a desaparecer... Afinal o que nos resta é a esperança num homem melhor... mas se tudo ficar assim.. afinal o homem era mesmo aquela merda... que até se conseguiu destruir a si próprio e a tudo o que é belo que o rodeia... Trincámos a maçã, temos coisas boas, não as queremos dispenssar, espero que a ciência venha emendar, os seus prórpios estragos. uma coisa é certa.. as coisas têm custos... nada chega a todos... alguem vai sofrer com isto, muitos já começam a sofrer...


Alphonse Mucha
[Czech/French Painter and Printmaker, 1860-1939 - Art Nouveau]

terça-feira, agosto 09, 2005

"Ser poderoso é como ser uma senhora. Quem precisa de afirmar que o é, não o é de facto." - Margaret Thatcher

"Como dominar o Mundo" André De Guillaume


Claude Monet
[French Painter, 1840-1926 - Impressionism]

terça-feira, agosto 02, 2005

nao consegui resistir fodasse... tou farto desta merda de gente

“O Crime da Ota”

“Luís Campos e Cunha foi a primeira vítima a tombar em virtude desses crimes em preparação que se chamam aeroporto da Ota e TGV. Não se pode pedir a alguém que vem do mundo civil, sem nenhum passado político e com um currículo profissional e académico prestigiado que arrisque o seu nome e a sua credibilidade em defesa das políticas financeiras impopulares do Governo e que, depois, fique calado a ver os outros a anunciarem a festa e a deitarem os foguetes. Não se pode esperar que um ministro das Finanças dê a cara pela subida do IVA e do IRS, pelo aumento contínuo dos combustíveis e pelo congelamento de salários e reformas, que defenda em Bruxelas a seriedade da política de combate ao défice do Estado, e que, a seguir, assista em silêncio ao anúncio de uma desbragada política de despesas públicas à medida dos interesses dos caciques eleitorais do PS, da sua clientela e dos seus financiadores.

O afastamento do ministro das Finanças e a sua substituição por um homem do aparelho socialista é mais do que um momento de descredibilização deste Governo, de qualquer Governo. É pior e mais fundo: é um momento de descrença, quase definitiva, na simples viabilidade deste país. É o momento em que nos foi dito, para quem ainda alimentasse ilusões, que não há políticas nacionais nem patrióticas, não há respeito do Estado pelos contribuintes e pelos portugueses que querem trabalhar, criar riqueza e viver fora da mama dos dinheiros públicos; há, simplesmente, um conúbio indecoroso entre os dependentes do partido e os dependentes do Estado. Quando oiço o actual ministro das Obras Públicas - um dos vencedores deste sujo episódio - abrir a boca e anunciar em tom displicente os milhões que se prepara para gastar, como se o dinheiro fosse dele, dá-me vontade de me transformar em “off-shore”, de desaparecer no cadastro fiscal que eles querem agora tornar devassado, de mudar de país, de regras e de gente.
Há anos que vimos assistindo, num crescendo de expectativas e de perplexidade, ao anunciar desses projectos megalómanos que são o TGV e o aeroporto da Ota. O mesmo país que, paulatinamente e desprezando os avisos avulsos de quem se informou, foi desmantelando as linhas férreas e o futuro do transporte ferroviário, os mesmos socialistas que, anos atrás, gastaram 120 milhões de contos no projecto falhado dos comboios pendulares, dão-nos agora como solução mágica um mapa de Portugal rasgado de TGV de norte a sul. Mas a prova de que ninguém estudou seriamente o assunto, de que ninguém sabe ao certo que necessidades serão respondidas pelo TGV, é o facto de que, a cada Governo, a cada ministro que muda, muda igualmente o mapa, o número de linhas e as explicações fornecidas. E, enquanto o único percurso que é economicamente incontestável - Lisboa-Porto - continua pendente de uma solução global, propõe-nos que concordemos com a urgência de ligar Aveiro a Salamanca ou Faro a Huelva por TGV (quantos passageiros diários haverá em média para irem de Faro a Huelva - três, cinco, sete mais o maquinista?).
Quanto ao aeroporto da Ota, eufemisticamente baptizado de Novo Aeroporto Internacional de Lisboa, trata-se de um autêntico crime de delapidação de património público, um assalto e um insulto aos pagadores de impostos. Conforme já foi suficientemente explicado e suficientemente entendido por quem esteja de boa-fé, a Ota é inútil, desnecessário e prejudicial aos utentes do aeroporto de Lisboa. E, como o embuste já estava a ficar demasiadamente exposto e desmascarado, o Governo Sócrates tratou de o anunciar rapidamente e em definitivo, da forma lapidar explicada pelo ministro das Obras Públicas: está tomada a decisão política, agora vamos realizar os estudos.
Mas tudo aquilo que importa saber já se sabe e resulta de simples senso comum:
- basta olhar para o céu e comparar com outros aeroportos para perceber que a Portela não está saturada, nem se vê quando o venha a estar, tanto mais que o futuro passa não por mais aviões, mas por maiores aviões;
- em complemento à Portela, existe o Montijo e, ao lado dela, existe uma outra pista, já construída, perfeitamente operacional e que é uma extensão natural das pistas da Portela, que é o aeroporto militar de Alverca - para onde podem ser desviadas todas as “low cost”, que não querem pagar as taxas da Portela e menos ainda quererão pagar as da Ota;
- porque a Portela não está saturada, aí têm sido gastos rios de dinheiro nos últimos anos e, mesmo agora, anuncia-se, com o maior dos desplantes, que serão investidos mais meio bilião de euros, a título de “assistência a um doente terminal”, enquanto a Ota não é feita;
- os “prejuízos ambientais”, decorrentes do ruído que, segundo o ministro Mário Lino, afectam a Portela são uma completa demagogia, já que pressupõem não prejuízos actuais, mas sim futuros e resultantes de se permitir a urbanização na zona de protecção do aeroporto;
- a deslocação do aeroporto de Lisboa para cerca de 40 quilómetros de distância retirará à cidade uma vantagem comercial decisiva e acrescentará despesas, consumo de combustíveis, problemas de trânsito na A1 e perda de tempo à esmagadora maioria dos utentes do aeroporto, com o correspondente enriquecimento dos especuladores de terrenos na zona da Ota, empreiteiros de obras públicas e a muito especial confraria dos taxistas do aeroporto.
O negócio do aeroporto é tão obviamente escandaloso que não se percebe que os candidatos à Câmara de Lisboa não façam disso a sua bandeira de combate eleitoral e que, à excepção de Carmona Rodrigues, ainda nem sequer se tenham manifestado contra. Carrilho já se sabe que não pode, sob pena de enfrentar o aparelho socialista e os interesses a ele associados, mas os outros têm obrigação de se manifestarem forte e feio contra esta coisa impensável de uma capital se ver roubada do seu aeroporto para facilitar negócios particulares outorgados pelo Estado.
A Ota e o TGV, que fizeram cair o ministro Campos e Cunha, são um exemplo eloquente daquilo que ele denunciou como os investimentos públicos sem os quais o país fica melhor. Como o Alqueva, à beira de se transformar, como eu sempre previ, num lago para regadio de campos de golfe e urbanizações turísticas, ou os pendulares do ex-ministro João Cravinho, ou os estádios do Euro, esse “desígnio nacional”, como lhe chamou Jorge Sampaio, e tão entusiasticamente defendido pelo então ministro José Sócrates. Os piedosos ou os muito bem intencionados dirão que é lamentável que não se aprenda com os erros do passado. Eu, por mim, confesso que já não consigo acreditar nas boas intenções e nos erros de boa-fé. Foi dito, escrito e gritado, que, dos dez estádios do Euro, não mais de três ou quatro teriam ocupação ou justificação futura. Não quiseram ouvir, chamaram-nos “velhos do Restelo” em luta contra o “progresso”. Agora, os mesmos que levaram avante tal “desígnio nacional”, olham para os estádios de Braga, Bessa, Aveiro, Coimbra, Leiria e Faro, transformados em desertos de betão e num encargo camarário insustentável, e propõem-nos um TGV de Faro para Huelva e um inútil aeroporto para servir pior os seus utilizadores, e querem que acreditemos que é tudo a bem da nação?
Não, já não dá para acreditar. O pior que vocês imaginam é mesmo aquilo que vêem. Este país não tem saída. Tudo se faz e se repete impunemente, com cada um a tratar de si e dos seus interesses, a defender o seu lobby ou a sua corporação, o seu direito a 60 dias de férias, a reformar-se aos 50 anos ou a sacar do Estado consultorias de milhares de contos ou empreitadas de milhões. E os idiotas que paguem cada vez mais impostos para sustentar tudo isto. Chega, é demais!

Miguel Sousa Tavares, Jornalista”

in Público (22.07.2005)