sexta-feira, abril 29, 2005

"...Como se forma o Individuo? Com o prazer... Fabricar vida é uma necessidade... deliciosa, viciosa portanto.
A Natureza Compreendeu que ninguem faria vida se não fosse por interesse... para gozar... E faz-sea vida só por isso... por isso só...
Era dificil, complicada a empresa: tão complicada que Deus não a pôde simplificar... Não pôde... nem soube. O filho, quando nasce, martiriza, tortura a mãe... mata-a muitas vezes... e não ri ao chegar ao mundo... não ri... chora... grita...
Eu vivo. Nunca fiz vida. Fui mais sensato, gozei apenas...
Procriar é uma malvadez: é fazer desgraçados.
E um crime matar, perceituam as leis. Crime muito maior é formar assassinos.
[...] Se a humanidade fosse inteligente, se profiasse, acabariam com os homens. Ventura suprema! Suprema inferioridade! Demonstraria que tinha mais força que o criador; destruiria a sua obra infame.
Mas ninguem quer domar os sentidos; com os sentidos, ninguém quer ser hipócrita...
A morte era a recompensa da vida. Os homens que estragam tudo, estragaram também essa recompensa: Inventaram a alma, o inferno e o céu."

"loucura" Mário de Sá Carneiro


John Kacere
[Pintor Americano, 1920-1999 - Fotorrealismo]

quinta-feira, abril 28, 2005

"Ah! bastante razão tinha eu quando me queria aborrecer para o tempo levar mais tempo a passar!"

"loucura" Mário de Sá Carneiro


Alfred Gockel
[Pintor Alemão, born 1952]

domingo, abril 24, 2005

" loucura?! - Mas afinal o que vem a ser loucura?...
Um enigma... Por isso mesmo é que as pessoas enigmáticas, incompreensíveis, se dá o nome de loucos...
Que a loucura, no fundo, é como tantas outras, uma questão de maioria. A vida é uma convenção: isto é vermelho, aquilo é branco, unicamente porque se determinou chamar à cor disto vermelho e à cor daquilo branco. A maior parte dos homens adoptou um sistema determinado de convenções: É a gente de juízo...
Pelo contrário, um número reduzido de individuos vê os objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria... são doidos...
Se um dia porém a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse superior e o género da sua loucura idêntico, eles é que passariam a ser os ajuizados: Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei, diz o adágio: na terra dos doidos, quem tem juízo, é doido, concluo eu.
O meu amigo não pensava como toda a gente... Eu não o compreendia: Chamava-lhe doido...
Eis tudo."

"loucura" Mário de Sá Carneiro


Auguste Glaize
[French Painter, 1807-1893 - Academic Classicism]

quinta-feira, abril 21, 2005

" - Falaste Verdade? Aborreceste-te nesse baile?...
- Aborreci. Eu aborreço-me sempre em todos...
- Então para que vais a essas estúpidas reuniões?
- Por causa do meu ofício. Preciso observar.
Aborreço-me por amor da literatura..."

"loucura" Mário de Sá Carneiro


Luca Giordano
[Italian Painter, 1632-1705 - Baroque]

terça-feira, abril 19, 2005

XIII

"...Tal és, cidade, licenciosa ou serva!
Outros louvem teus paços sumptuosos,
Teu ouro, teu poder: sentina impura
De corrupções, teus não serão meus hinos!"

Poesia de Alexandre Herculano


François Gerard
[Pintor Francês, 1770-1837 - Neoclassicismo]

quarta-feira, abril 13, 2005

XIII

"Bem negra avulta aqui, na paz do vale,
A imagem desse povo, que reflui
Das moradas à rua, à praça, ao templo;
Que ri, e chora, e folga, e geme, e morre,
Que adora Deus, e o pragueja, e o teme;
Absurdo misto de baixeza extrema
E de extrema ousadia; vulto enorme,
Ora aos pés de um vil déspota estendido,
Ora surgindo, e arremessando ao nada
As memórias dos séculos que foram,
E depois sobre o nada adormecendo."

(continua..)

Poesia de Alexandre Herculano


Paul Gauguin
[French Painter, 1848-1903 - Post-Impressionism/Art Nouveau]

domingo, abril 10, 2005

"Ontem, sentado num penhasco, e perto
Das águas, então quedas, do oceano,
Eu também o louvei sem ser um justo:
E meditei, e a mente extasiada
Deixei correr pela amplidão das ondas.

Como abraço materno era suave
A aragem fresca do cair das trevas,
Enquanto, envolta em glória, a clara lua
Sumia em seu fulgor milhões de estrelas.
Tudo calado estava: o mar somente
As harmonias da criação soltava,
Em seu rugido; e o ulmeiro do deserto
Se agitava, gemendo e murmurando,
Ante o sopro de oeste: ali dos olhos
O pranto me correu, sem que o sentisse,
E aos pés de Deus se darramou minha alma."

Poesia de Alexandre Herculano


Maurits Cornelis Escher
[Dutch Illustrator, 1898-1972]

sexta-feira, abril 08, 2005

"A ideia de Deus acorda um tremendo vizinho. Seu nome é Juiz."

Schiller


Emiliano Augusto di Cavalcanti
[Brazilian Painter, 1897-1976]

quinta-feira, abril 07, 2005

"Qualquer ser humano é irrepetivel." Papa João Paulo II

respeitem-se (Babylonia Blog)




Eugene Delacroix
Paul Delvaux
[Pintor Belga, 1897-1994 - Surrealismo]

segunda-feira, abril 04, 2005

"...os seus olhos, os seus antigos olhos brilhantes, estão felizes."

W. B. Yeats, Lapiz Lazuli


Eugene Delacroix
[Pintor Francês, 1798-1863 - Romantismo]

sábado, abril 02, 2005

Diálogo entre panteras

BAMBUMBIM....A pantera cor-de-rosa queria ser amarela. Mas por infeliz acaso de ter de ser o que os genes determinavam e daí aprender a gostar da sua cor. A pantera cor-de-rosa não gostava de usar argolas nas orelhas, mas como estava quase a ser ostracizada de todos os meios decidiu furar os pavilhões auriculares. A pantera cor-de-rosa odiava saltos altos mas como todos lhe diziam que impunha mais respeito e aumentava a sua beleza com aquele calçado, ela decidiu fazer deles a sua preferÊncia.

Um dia apareceu um pantera negro. Ele dizia que a cor que as crianças utilizavam para pintar o sol era a sua preferida. E dizia que os brincos eram um adorno fútil, e que como tal, eram inúteis para aumentar a beleza já existente. Também comentou que a prespectiva do mundo não muda muito se tivermos mais 5 cm atados aos pés .

A pantera cor-de-rosa sorriu. Mas o sorriso amarelo não condizia com a sua tez corada.
A pantera cor-de-rosa pensou a partir de quando se decidira vender Às normas de beleza vigentes e quanto se sentia infeliz com o ram-ram de ser igual a tantos outros felinos. A questão não era ser igual aos outros, a questão era não ser igual a si própria, não lutar por aquilo em que acreditava. Isso a afligia. Isso lhe direccionou o sangue para o braço, que levantou, e vigorosamente utilizou para pregar um estalo ao pantera preto. "Preto de merda. E que é que tu tens a ver com isso?"